#3.04 – CONTA COMIGO
Nossa! Essa coisa de espírito é muito complicada. Eu ainda não entendo muito bem, mas confiam em mim e, se confiam em mim, devo me esforçar para fazer as coisas da maneira certa. Gostaria que não esperassem tanto... Não é preguiça nem nada. Eu só sou do meu jeito mesmo. Eu não sou igual ao Metoo.
Às vezes gostaria de ser igual ao Metoo, ele é tão inteligente, meio sábio... Eu não, eu sou mais direto, mais simples. Adoro ir para a academia, jogar vôlei, futebol, não tenho muito tempo para essas coisas. Meditar? Eu nem sei como se soletra essa palavra. Deve ser coisa de japonês, rsrsrsrs.
Eu nem sabia que o Tás era um espírito até ele desaparecer na minha frente e só faltou alguém gritar: “vejam, ele é um espírito”, daí eu teria percebido com certeza.
Falando sério, pela primeira vez na minha vida eu estou preocupado, realmente preocupado. Meu amigo está mais de um mês em coma e nada do que façamos faz ele voltar. Enquanto isso eu venho fazendo o “trabalho” dele. Engraçado. Trabalho não é bem a palavra, mas é isso aí, eu to ajudando ele nessa parada.
Acho que quando a gente está envolvido nisso, nossa cabeça funciona como um furacão de pensamentos. Eu não costumo pensar muito antes de fazer qualquer coisa, sou assim, meio inconseqüente mesmo. Algumas vezes dá certo, outras não, daí eu vou levando.
A Ana não sabe de nada disso, na verdade não se lembra, graças ao poder do Cammelo. Isso tá deixando nosso relacionamento n corda bamba... ela querendo saber das coisas e eu não podendo contar. Eu prometi, poxa! Promessa é dívida para mim, principalmente se faço uma promessa para alguém que é muito importante; Metoo é um super amigo, sempre me ajudou, eu não posso deixar ele na mão. “Quanto menos as pessoas souberem melhor será” ele disse uma vez. Não vou mentir não, cara, tá difícil agüentar.
Mas ele vai saber, quando voltar... e ele vai voltar, que pode contar comigo. Que estamos fazendo de tudo para ajeitar as coisas e encontrar a Karina.
Como encontrar alguém que pode desaparecer do nada? Essa parada é mais estranha ainda.
O que eu posso fazer agora é esperar.
*
Epa, tá vibrando!
- Fala Cam, tudo certo por aí? O Met está bem?
- Tá sim. Pode fazer um favor para mim?
- Claro, cara. Pode falar... – Tava louco para ser útil.
- Quando você vier para cá, traz a Ana também, ok?
- Tá!
Nem pensei antes de responder... se a Ana tá brava, se pediu um tempo...
- Beleza eu vou estar esperando por vocês aqui. Tchau.
Desligou. É rapaz, tá na hora de enfrentar as feras, mas não vou ensaiar muito não que é pra não ficar mais tenso.
Acho que vou fazer uma caminhada antes. Correr um pouquinho para oxigenar a cabeça. Melhorar as idéias.
*
Correndo agora eu posso sentir meu pensamento livre da pressão. Mais dois quilômetros, talvez três e eu paro. Sem querer, mas paro. Tenho que voltar para casa, tomar banho, passar na Ana e ir pro Metoo.
O que é isso agora? Mensagem...
“Fala Betão, é o Jota, vc vem pro treino?”.
“Q treino?”, mandei para ele.
Dois minutos depois...
“O Edu n tinha marcado com o time, pra todo mundo passar na quadra q tava liberado pro treino d sexta, antes do campeonato?”.
“Num vai dá n. Tenho um assunto urgente p resolver! Bota o Serginho no meu lugar”.
“Vc tá com algum problema? O time ajuda”.
“Fica tranqüilo, eu resolvo a parada na boa”. Enviei o sms.
Acho que consegui convencê-lo, não mandou mais mensagens. Ia ser maneiro o time de fut envolvido com isso, seríamos tipo os Super Patos, rsrsrs
É por enquanto nada de treino também. Eu corro pra caramba toda vez que precisa ajudar alguém, já serve de treino.
*
Enquanto tomava um banho gelado e refrescante, minha mãe me chamou.
- Beto, o Jota ligou para você. Ele disse que ia tentar no celular. Você falou com ele?
- Falei sim! – Gritei do banheiro. – Ele me mandou uma mensagem.
- Então tá. Eu vou sair com o seu pai, não deixa a casa abandonada e faz um arrozinho para você se alimentar.
- O mãe! Não vai dar não, vou lá na casa do Metoo.
- E ele está bem? Melhorou?
- Não sei, vou lá ver.
- Coitada da Samanta, se fosse comigo eu nem sei o que faria.
- Mas quase aconteceu, lembra? Se não fosse o Metoo eu estaria internado até hoje no hospital.
- Nem me fale, esses motoristas que não prestam atenção em nada! Bom, deixa eu ir se não vou me atrasar. Mande um beijo para Samanta e diz que depois vou visitá-la.
- Tá, mãe, pode ir.
Passado um tempo, já tava prontinho para sair. Tranquei a porta, tudo certo. Agora é passar na casa da Ana.
*
- Beto, tudo bem? – Disse Ana, num tom normal.
- Boa tarde.
- Então... algum problema? Quer entrar?
- Não, é que o Cammelo chamou a gente para ver o Metoo...
- E ele está bem? Já acordou?! Como é que ele está?
- Eu não sei, o Cammelo só chamou a gente...
- Eu vou me arrumar, me dá 3 minutinhos.
Sentei no sofá, cumprimentei minha sogrinha e esperei. Rapidinho a Ana estava pronta e muito bonita. Sempre bonita.
Durante o caminho fomos conversando... pouco.
- E então, como você está? – Ela perguntou.
- To bem, por quê?
- Por nada... Ainda naquele mistério, sei lá...?
- Ainda.
- Você não vai me contar, não é?
- Não é que eu não queira, eu fiz uma promessa, se eu tivesse um segredo seu, uma coisa que você não gostaria que ninguém contasse, eu também guardaria pra você.
- Eu entendo. Mas eu não contaria para ninguém, muito menos para as garotas... ficaria guardado comigo.
- Aninha.
- Poxa Beto, você é meu namorado podia confiar em mim.
- Não é isso, não é se você é confiável ou não, é se EU sou confiável. Me contaram, pediram segredo, não dá. Além de ser muito complicado.
- Está bem.
Não estava bem não, eu conheço a figura. A Ana pode ser muito meiga, mas quando se trata de assuntos que envolvem ela e ela não pode saber, vira uma fera.
E ela tá nessa por minha causa.
*
Chegamos, finalmente. O silêncio começou a ficar chato. Dona Samanta nos recebeu, parecia bem melhor do que duas semanas atrás. Ela levou a gente até o quarto do Met.
Lá, como das outras vezes, o Cammelo já estava sentado na beirada da cama.
- Dona Samanta, faz um favor pra mim? Fecha só as cortinas, pro ambiente não ficar muito claro e machucar os olhos dele.
- Oi Cam – Falei.
- Oi Beto, oi Ana. Tudo certo? – Ele falou baixinho.
- Porque você está falando tão baixo? – Perguntei, normal. Parecia que eu estava berrando.
- É pra não atrapalhar o Metoo. Presta atenção: “Acorda Metoo”. – Disse Cammelo em voz alta.
Veio, assim que ele falou mais alto o Met teve uma reação. Fez uma cara de nervoso, mas o Cam, garantiu que ele tava dormindo ainda.
- Alguém pode fazer o favor de explicar o que está acontecendo? – Falou Ana baixinho.
- É o seguinte, Ana. – Começou Cammelo. – Eu, a Karina, namorada do Metoo, o próprio Metoo e o Beto, desenvolvemos uma sensibilidade espiritual, com direito a alguns poderes também. A Karina pode teleportar objetos e pessoas de qualquer lugar, eu posso mexer com os pensamentos das pessoas e o Metoo pode ouvir o coração das pessoas, entre outras coisas. Só que... como aconteceu uma sobrecarga de eventos faz um mês, o Metoo acabou em choque, para evitar algo pior eu mantive ele em coma. Porém, enquanto o Metoo estava descansando alguém tinha que continuar ajudando as pessoas, daí entra o Beto que acabou por desenvolver as mesmas habilidades que o Metoo. Só que ele vinha mantendo isso em segredo para não prejudicar ninguém, afinal não é todo mundo que entende sobre essas coisas ou fica a vontade com o assunto. A dona Samanta já sabe de tudo isso, e está colaborando com a gente.
Meu, ele tá maluco?! Por que ele foi falar pra Ana.
“Não se preocupe. Ela não acreditou em praticamente nada do que eu disse. Afinal é mais fácil acreditar numa mentira simples, do que em uma verdade absurda”.
Cara, adoro quando você faz isso. É como se tivesse outra pessoa na minha cabeça. Pensei.
“Mas é exatamente isso”.
Maneiro!
- Tá, digamos que isso seja verdade... – Ponderou Ana. – Se foi você que fez ele dormir, porque não fez ele acordar antes?
- É muito simples. Não adiantava nada eu fazer isso com o Metoo e despertá-lo logo em seguida, ele ficaria num estado pior ainda. Por outro lado, alguém estava causando uma interferência no meu controle da mente. Não sei que queria impedir o Met de acordar ou se queria fazer outra coisa. Só sei que agora essa interferência sumiu e como passou muito tempo posso fazer o Metoo voltar.
- Certo! – Disse eu empolgado.
- Também gostaria de pedir um favor. Não façam muito barulho, pois ele vai estar muito sensível quando despertar. Escutou né, Beto?
- Sim, senhor!
- Fala baixo, Beto! – Ana puxou meu braço.
- Podemos começar? – Cammelo perguntou olhando para a dona Samanta. Ela tava meio aflita, mas consentiu.
Cammelo se concentrou, respirou fundo e colocou a mão direita sobre a testa do Met. Parecia que ia fazer um exorcismo. Opa, me esqueci que o Cam pode escutar meus pensamentos. Ó, foi mal aí!
Aos poucos o Met ia dando sinal de vida.
- Ele está acordando – Disse Cam.
- É verdade? E ele está bem? – Perguntou Samanta baixinho.
- Sim, mas ele precisa descansar, está certo? – Respondeu Cam.
O Met começou a mover os braços, bem devagar. Eu quis avisar.
- Olha lá! Olha lá!! Ele está se movendo!
- Beto, o cammelo pediu para fazer silêncio!
- Metoo, Metoo... você está me ouvindo? – Cam perguntou bem devagar, para ter certeza de que o Met entenderia.
- Deixa eu tentar!
Falei super empolgado. Eu tenho certeza que quando ele ouvir minha voz, ele vai abrir os olhos na hora.
“Eu também”
Mal pensei na coisa, o Met foi abrindo os olhos.
- Agora sim!
- Fica quieto, Beto!
- Ele está recobrando a consciência... tenham paciência – Cammelo disse.
Passamos um tempinho em silêncio. Met olhava para os lados, mas parecia que não focava em nada.
- Eu sabia que ele ia voltar – A dona Samanta estava bastante emocionada.
- Eu também! – disse empolgada.
- Silencio, gente.
Met parecia completamente acorda. Olhou para os lados, olhou para a gente. Mas não falava nada. O Cam tentou mais uma vez.
- Metoo, consegue me ver? Me ouvir?
O Met permanecia em silêncio, confuso. Mas eu sei que ele vai voltar a ser o que era e quando isso acontecer ele vai ter o meu apoio, sempre.
CONTINUA NO PRÓXIMO POST.
4 comentários:
ahh tah explicado....
agora eu entendi... eta q a história ta ficando boa... vamo bora.. abraços
Oi Gabriel, tudo certo?
Demorou mas chegou, né? Espero que esteja gostando da história porque ainda tem outras surpresas por aí.
abraços.
cada vez melhor!!
agora soh resta esperar pelo proximo post... abaços.
Tá melhorando mesmo. Mas aguarde que tem mais!
abraço.
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