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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

EU NÃO DEIXAREI

#3.05 – EU NÃO DEIXAREI



Era incrível minha capacidade de estar sempre em apuros, de todos os tipos. Mas nada me deixava tão contente como ter meus amigos perto de mim me ajudando. Na verdade isso é apenas um pequeno rascunho da situação toda em que eu me encontro. Eu admito, gosto de pensar e pensar me faz sentir vivo de certa forma, afinal se eu penso é porque estou vivo, não? Eu gosto de pensar e aprendi que os pensamentos não são lineares, porém lógicos, isso é meio estranho. O que quero dizer é que mesmo que eu pense coisas diferentes e concomitantes, no fundo, busco um objetivo em comum.

*

Eu estava entendendo melhor tudo o que tinha se passado durante meu estado sonolento. Claro que minha cabeça não captava todos os detalhes, contudo pedi mais uma vez para que o Cammelo me explicasse. Ele, sendo muito educado por sinal, me alertou que se mais uma vez eu escutasse sobre o ocorrido, mais uma vez eu passaria por emoções que me deixaria nervoso ou ansioso. Como eu disse que estava tudo bem, ele prosseguiu:

- Foi o seguinte... Você lembra de tudo que aconteceu há algumas semanas atrás, não lembra?
- Engraçado, porque não parece que faz muito tempo... – Comentei.
- Acredite em mim, faz sim. Você estava dormindo, sua mente trabalhou durante esse tempo todo, mas nossa mente não diferencia, durante o estado do sono, quanto tempo se passou de um evento para o outro.
- Compreendido.
- Metoo. – Cammelo continuou, todavia ele olhava para minha mãe com receio de pronunciar as palavras que viriam a seguir: - Você descobriu que seu pai tinha morrido, que seu irmão mais novo tinha morrido, além de ver sua namorada desaparecer diante de você, por causa daquela criatura. Já é difícil acreditar em toda a situação que você vêm passando desde a morte da dona Lurdinha, o acidente com a explosão do carro e agora mais isso...
- Desculpa – Interrompeu Ana – Mas isso parece muita mentira... Quer dizer, não acha que está exagerando? O acidente do carro não tem nada a ver com espíritos, fantasmas, duendes... O Metoo só teve, sei lá, um colapso nervoso, um problema de pressão. A gente não pode deixar a dona Samanta nesse estado criando fantasias. – Ana falou olhando para todos, principalmente Cammelo.

Cammelo queria se pronunciar, mas eu continuei o ciclo de interrupções e me adiantei:

- O que fica martelando na minha cabeça é que não parece que aconteceu nada disso. Por mais que eu lembre do passado, dos poderes, enfim, foi como um acontecimento bem distante, como um sonho ruim. Além de me parecer estranho, por exemplo, a Ana... Ela deveria saber dessas coisas também?
- Eu sei do que você está falando. – Informou Cammelo. – Mas vamos conversar sobre isso depois.
- Eu juro que não quero ser chata, mas isso está perdendo a noção. Eu não vou deixar vocês fazerem isso com a dona Samanta, com o Metoo. Não vou deixar você – Disse rispidamente olhando para Cammelo – envolver o Beto nisso. Eu vou embora.

Dizendo isso, Ana saiu acenando levemente para minha mãe e eu. Estava alterada, talvez confusa também. Beto foi atrás, muito chateado, querendo trazê-la de volta. Estou preocupado com eles.

- Não se preocupe Metoo, vai passar. Bom, deixa eu explicar de novo, pois não deixaram. – Falou Cammelo.

Ele explicou detalhe por detalhe do início, que eu já estava cansado de saber. Comentou que eu teria um verdadeiro colapso se ele não me botasse para dormir, afinal o cérebro continua funcionando enquanto dorme, mas em intensidade levemente menor. Depois me mostrou minha mãos; Aquilo foi um choque para mim, como uma comprovante de que tudo que se passou foi real. Minha mãe não dizia nada, só olhava, de pé, para mim, torcendo para que nada acontecesse.

Finalmente ele tinha chegado ao ponto que eu gostaria de saber:

- Tá. O que acontece é que eu manipulei todos os fatos durante seu estado de sonolência. Tudo o que aconteceu, tudo que você, tocou, cheirou, bebeu, sentiu, viu, tudo foi criado a partir do meu poder. A única coisa que não manipulei completamente foi o seu pensamento dentro do seu próprio pensamento. Parece complicado mas não é. Mesmo quando estamos dormindo, no nosso sonhos ainda podemos pensar. Essa liberdade de pensamento possibilita que tenhamos uma sensação de realidade. Por exemplo, tudo que você conversou com o Beto, durante o sonho, e todas as respostas dele foi o que seu raciocínio concluiu que ele responderia, pelo conhecimento que você tem da personalidade do seu amigo. É naqueles momentos em que dizemos:” Eu sabia que você diria isso!”.

- Então era tudo um sonho mesmo? Mas por quê? – Quis saber.
- Eu achei que seria mais fácil de você se recuperar se acreditasse que as pessoas que você ama estavam do seu lado. Seu pai, seu irmão, mãe. A família junta, como se nada dessas coisas terríveis tivessem acontecido. Então coloquei você nessa ilusão...

- Você tem razão... Era ilusão mesmo. – Disse
- Me desculpa Metoo. Quanto mais você acreditava que aquele mundo era real, mais seu corpo aqui se recuperava.

Eu voltei para o mundo real. Meu irmãozinho não está retornando do Rio de Janeiro. Minha namorada não está por perto e minhas mãos enfaixadas estão quentes.

- Faz um mês certo?
- Sim. Por quê? – Perguntou Cammelo.
- Minhas mãos ainda doem. Elas deveriam estar cicatrizadas.

Cammelo olhou novamente para minha mãe. Ajeitou-se na beirada da cama e falou:

- Eu não sei explicar o por que, mas essa ferida não quer fechar. Ela está se curando em velocidade mínima, e você vai ter dificuldade na escola por isso. Outra coisa é que você não deve fazer aquilo de novo. Usar aquela luz, porque se na primeira vez ela fez isso com as suas mãos, numa segunda vez ela vai fazer um buraco de verdade, vai ser possível olhar por dentro delas.

- Eu não sei se posso fazer aquilo de novo... Lembrando bem, eu precisaria dizer algum tipo de feitiço que já não sei mais.

Pensando nisso, onde estaria o T... Meu pai? Ele não veio...

- Não tivemos nenhuma informação mais, sobre os guias. Ninguém apareceu, se revelou ou mesmo pretendeu dizer nada. Tás, ou melhor, o senhor Leônidas nunca mais apareceu. E ninguém sabe sobre o paradeiro da Karina. Sinto muito.

Me ajeitei na cama. Respirei fundo. Quis pensar sobre todas coisas que redescobri. Sentia que faltavam explicações... Não sabia o porquê. Minha mãe me aconselhou a descansar um pouco mais. Não faria bem ficar me exaltando e procurando soluções para problemas que nem sabemos se são problemas de verdade.

*

Eu estava louco para tomar um banho morno, já que estávamos na época do calor extremo. Tirar os curativos da mão, vestir uma roupa decente e ir para a escola. Estar rodeado de pessoas... Pessoas de verdade. Saber tudo o que aconteceu com os meus amigos, com os professores, com todo mundo. Mas não me deixaram sair da cama. Não ainda.

- Você tem que ficar de molho, filho. – Disse minha mãe. – Foram dias muito difíceis para você...
- E pra você não foram? – Indaguei. – Mãe, a senhora deveria estar arrasada. O Ex-marido morreu, o filho mais novo morreu e o mais velho estava em coma, eu não entendo como...

Eu não entendia como ela parecia estar bem. O Beto, a Ana e o Cammelo se preocuparam tanto comigo, mas minha mãe deveria ter sofrido o dobro. Ninguém reparou nisso? Fiquei bravo, melhor dizendo, chateado.

*

No dia seguinte, minha mãe trouxe o café da manhã na cama. Parecia uma delícia e sentia uma fome como nunca antes. Eu a observava para ter certeza de que estava bem de verdade e o engraçado é que ela fazia o mesmo. Ela sorria bem de leve enquanto passava a mão no meu rosto verificando se minha temperatura estava adequada.

- Por um momento... – Ela quebrou o silêncio. -... Eu achei que não veria você abrir os olhos. Que ficaria dormindo e quieto. Isso foi tão assustador.
- Eu imagino que sim. Mãe?
- O quê? Pode falar.
- Você não está achando tudo isso uma maluquice, né?
- Como eu gostaria que fosse isso, Metoo, como eu gostaria! Mas a realidade é outra.
- A Ana respondeu a tudo tão mal, eu achei que pensasse da mesma forma. Eu nem sei mais qual é o limite do que consideramos normal para o que parece fugir da realidade.
- O Cammelo me explicou tudo, cada fato, cada detalhe, tudo que ele sabia. Não foi fácil, Deus sabe como não foi, só que, ou eu tomava uma atitude e ajudava meu filho ou seríamos dois doentes, em coma. O Cammelo esteve por aqui todos os dias, ajudando, conversando comigo. O Beto e a Ana vinham te visitar, querendo saber de alguma melhora. O que eu sei é que seus amigos se importam muito com você e que se for preciso você deve ajudá-los também. O Cammelo salvou a sua vida, não sei se é verdade ou não, mas eu sei que se ele não tivesse feito o que fez, talvez a gente não veria você assim, agora.
- Certo.
- Eu estou muito surpresa com tudo e admito que não estou totalmente certa disso, mas... Eu fico... Orgulhosa... De você ter ajudado ou tentado ajudar as pessoas. Mas estou decepcionada por não ter me contado... mas, mas eu sei que não acreditaria e que foi melhor não ter contado mesmo.
- Eu sinto muito, mãe. Não queria fazer a senhora sofrer, jamais.
- Não é sua culpa filho, quantas pessoas por aí não devem ter algum tipo de sensibilidade... Só não imaginei que fosse acontecer com você. E você acha que mãe espera que coisas perigosas aconteçam com seus filhos?
- Claro que não – Eu sorri.
- Então toma seu café, seguro, e eu vou trabalhar. O Cammelo vem te visitar mais tarde, tá? Beijos. Ah! Eu volto mais cedo hoje para ficar com você.
- Não precisa mãe, pode trabalhar sossegada.
- Eu quero vir, meu supervisor já sabe da situação. Tchau.
- Tchau – Respondi.

Minha mãe é realmente especial. Se fosse possível voltar atrás, eu não deixaria ela se envolver tanto nisso. Mas será que eu tinha escolha? Eu ouvi dizer que tudo que fazemos na nossa vida são escolhas. Eu poderia simplesmente ter ignorado os sintomas do poder que tenho; Mas eu poderia mesmo deixar de atender aos pedidos que me faziam? Eu escolhi aceitar as responsabilidades do meu poder e ajudar as pessoas. Aprendi, reaprendi que nossas escolhas tem conseqüências, agora o que tenho que fazer é tomar as atitudes certas.

*

Quase duas da tarde, o Cammelo chegou aqui em casa. Pelo horário, parecia vir da escola. A mochila dizia tudo também.

- E aí, Metoo, como vai indo sua recuperação?
- Vai bem, tirando o fato de que tempo em tempo estou ficando em recuperação.
- Você tem histórico! – Comentou ele, sendo irônico.
- Pára com isso – Eu ri.
- Bom, me parece que você está bem de verdade.
- Estou praticamente pronto para a ação. – Disse confiante.
- É, vamos com calma aí! Não é bem assim. Tenho que avisar que ficar sobre a manipulação mental pode deixar seu raciocínio um pouco lento. Não se preocupe, não vai ficar lento para sempre.
- Que bom, porque eu me sinto bem de verdade, pensando mais do que nunca!
- Sabe que eu sei disso.
- É! Você pode ler pensamentos, mudar realidades... o que mais você pode fazer?
- Isso é segredo. – Respondeu Cammelo, dando risada.
- Eu gostaria de agradecer a você... Por tudo.
- Olha Metoo, eu moro longe, vivo ocupado estudando e pesquisando inúmeras coisas. Não digo que tenho poucos amigos, pois não tenho. Mas depois que vim pra cá descobri muitas coisas importantes. Eu achei que poderia viver só e criar qualquer amigo que eu quisesse, na minha mente. Mas aqui, eu conheci amigos que se preocupam comigo de verdade.
- Estamos aqui para isso!
- Certo. E você, não queria me perguntar alguma coisa?
- Como você... Esquece, já entendi. É sobre a Ana. O que aconteceu com ela?
- Bom, eu resolvi que ainda não era hora de contar para ela. Então apaguei a memória dela em alguns pontos. Sabe ela procura respostas, mas ela não encontra as respostas que gostaria e por isso não entende o que está acontecendo, para ela, tudo deve ter uma explicação muito lógica, e você sabe que com a gente, nessa situação e todas as outras coisas, isso é meio difícil. Já com sua mãe era diferente. Eu não poderia te ajudar se ela não soubesse, não fui criativo o suficiente para criar uma mentira para ela. Como eu iria explicar que o marido e o filho morreram? Como eu iria explicar que o filho mais velho dela dormiu e não acordou por mais de três semanas? Eu tive que contar. Agora ela está bem.
- Eu vi. Eu só acho que ainda estou sonhando um pouco, e não é lá um sonho muito bom. E as pessoas? Não aconteceu nada durante o tempo em que eu fiquei na cama? – Perguntei.
- Aconteceram sim. O Beto esteve no seu lugar, ele era a pessoa que ficou no seu lugar durante esse tempo todo. Ele foi bem corajoso.
- O Tás tinha pedido para gente encontrá-lo... O tempo todo era o Beto.
- Alguma coisa me diz que o Tás sabia o que iria acontecer. – Disse Cammelo.
- Como assim?
- Eu não sei direito. Mas se ele pediu um substituto para você, sabendo que você entraria em choque, deve estar acontecendo muita coisa por aí.

*

Muita coisa para resolver; essa história ainda não acabou. Aprendi também que precisamos encontrar nosso próprio refúgio, mesmo assim, sem que nos tornemos parte da ilusão. Eu estive no mundo perfeito para mim, onde minha família era plena. A Ana busca respostas que não existem, não da maneira dela, enquanto o Cammelo se tornava vítima dos pensamentos. Aos poucos conseguimos compreender que só damos valor quando essas coisas se mostram verdadeiramente importantes. Eu aprendi. Minha família ainda está aqui, minha mãe precisa de mim... A Ana vai acabar enxergando que ela está indo para o lado oposto, e que se virar, pode ver as coisas em uma perspectiva diferente e por fim, o Cammelo, sabe que não podemos viver num mundo de ilusões e que o mundo tem mais calor, quando se vive nele. Criamos nossas próprias ilusões, não há mal nisso contanto que encontremos, cedo ou tarde, a saída delas.

CONTINUA NO PRÓXIMO POST.

2 comentários:

Gammelo disse...

Já te disse que se continuar assim eu voiu para de ler o blog.. ta loko coitada da tia Samanta (tia olha só eu com a intimidade já, vc num tem ideia de como eu vi esse fato para ser contado de outro angulo... kkk
Continua....

Alef disse...

quais surpesas ainda estão por vir... a cada post a anciedade pelo proximo aumenta!