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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

QUANDO A COISA APERTA

#3.03 – QUANDO A COISA APERTA


Estávamos em ritmo frenético, num calor ardente, sufocante e, no entanto, prazeroso, extasiante. O macio de sua pele causava em mim mais do que mil ninfas causariam ao mais libertino do sátiros. Perseguidores de donzelas, sujos e vorazes. Ao tato era arrebatado aos poucos, conforme a mais performática dança de tango junto do preto e do vermelho. Sim! Ela era o tango e eu o palco sob seus pés. Seu sentimento ardia feito o de uma espanhola, seu suor, um néctar, seu cheiro, perfume. E quando tudo terminou, não temi por sua picada, viúva negra, apenas desfaleci e descansei, olhando suas sinuosas formas. Uma pele alva banhada por cachos negros ondulados. Gostaria de tocá-la, mas meus dedos mantinham-se distantes, com parte na consciência que não tive. Foi minha primeira vez e foi muito bom, mas... não era a Karina.

Deus sabe quanta culpa carrego e do meu descontento por tomar do prazer seu sentimento e despojá-lo, tornando o puro, objeto. Pensava “Esse não é você, Metoo. O que você fez?”, “Nunca vão te perdoar”, “Você não merece ser perdoado!”. O que fazer, então? A vergonha me consome, a coragem parece fugir de mim. Sou covarde. Pensei argumentos dentro da moral e ética, entretanto a moral me condena e a ética me falta.

O que é o sexo se não a junção entre dois seres no universo da exploração e a culpa a degradação completa dos valores outrora expurgados e n’outrora inconseqüentemente manchados pelos nossos atos? O arrependimento, então? Sentimento grotesco que nos invade após - e somente após - o erro cometido. Não lembro de ninguém que tenha se arrependido antes de realizar n ato, a não ser ter se arrependido por não tê-lo feito, e mesmo assim não seria depois? Que confusão que se encontra minha cabeça.

DIAS DEPOIS

Discursar sobre moral e ética não era meu forte, muito menos sobre coragem e honra, não depois do que eu fiz, depois de ter traído a Karina. Eu nem sabia o nome da outra, nem sequer lembro de como fomos parar em tal situação. Lembro vagamente do seu olhar e que dias atrás havia passado por mim na rua e demonstrava estar feliz. Por que estaria feliz? Eu sinceramente não sei e acho que nunca irei saber. Não vou perguntar, não vou mais encontrá-la. Não posso. Não quero.

Tudo que sei é que minha vida parece mergulhar na mais profunda confusão e tudo que eu queria era acordar de vez, mas sei que isso seria fácil demais... e nada é fácil demais.

Não podia conversar com ninguém. Minha mãe? Nem pensar, não é um tipo de assunto confortável para mim. Meu irmão? Novo demais para entender. Só sobrava o meu pai e mesmo assim não sabia as possíveis conseqüências dessa decisão.

*

Meu pai encontrava-se no sofá, assistindo a um jogo de futebol. Mal sabia ele das minhas angústias. Ficava lá sentado, fitando a tela de LCD. Pensei “sobre o que ele está pensando?”. Estaria pensando de fato no jogo? Pensando sobre as táticas, sobre as faltas mal marcadas, sobre os erros da narração esportiva? Ou nada a ver com isso? Sua concentração me fascinava a tal ponto de cogitar uma ou duas, talvez três vezes se deveria distraí-lo com minhas inquietudes. No entanto, estava a ponto de explodir. Por isso me aproximei, como quem não quer nada e pronto, falei.

- Pai, posso conversar com o senhor?
- Pode. – Disse ele.
- É que aconteceu uma coisa... difícil de falar – Meu tom denunciava meu total desconforto com a situação.
- Que coisa? – Ele perguntou como se não fosse absolutamente nada.
- Deixa pra lá...
- Não. Pode falar. O que é? – Ele insistiu.
- Nada mesmo.

Ia explodir? Vou explodir!

Resolvi, por bem da atmosfera que a sala estava se tornando, levantar e ir para bem longe dali. Meu pai ficou sem entender, mas acreditou que isso tinha a ver com a minha idade ou coisa relacionada.

Se não podia conversar com minha família sobre o assunto, com quem mais eu poderia conversar? Aí venho uma idéia brilhante, ou não: falar com meu melhor amigo desde a infância. Pessoa com quem eu pude contar em momentos complicados. Beto.

Mas não ficaria ele numa saia justa por me delegar algum tempo ao invés de fazer isso por sua namorada, também minha amiga? Prefiro acreditar que ela entenda que eu esteja precisando conversar com ele.

- Metoo! – Disse Beto, ao abrir a porta – Quanto tempo em moleque.
- Preciso conversar com alguém.

Logo fomos para seu quarto. Por sorte a Ana não estava, então podíamos ficar mais tranqüilos sobre qualquer aspecto. Fui direto ao ponto, quando questionado sobre minha aparência não muito relaxada e amigável. Algo também em relação ao suor que escorria do meu rosto. Fato, eu estava muito quente, a ponto de pifar com a pressão do ocorrido.

- Eu transei com uma mulher desconhecida. – Falei, na lata.
- Você o quê?! – Ele estava positivamente perplexo.
- Eu nem consigo repetir. – Disse, rubro de vergonha.
- Cara, que interessante!
- Beto! Não tem nada de interessante nisso... Você não entendeu?
- Não entendi?

Precisei respirar fundo. Para ter certeza que deveria continuar essa conversa.

- Eu-traí-a Karina... Entendeu agora?
- Isso eu já tinha percebido. Diga-se de passagem que eu não concordo muito com isso, mas vamos ao ponto...
- Que ponto? – Indaguei.

Mas que raio de “ao ponto” ele está falando.

- Nem vem com essa cara, Metoo. Eu quero saber os detalhes. – Disse ele com notável empolgação.
- Que mané detalhe o quê?
- Não é bem disso que eu estou falando. – Reformulou Beto. – Quero saber com quem e onde, ou como? É alguém que eu conheço?
- Não!!! Não! – Pensei por um instante, para oxigenar o cérebro. – Não, acho que você não a conhece.
- Tá. Qual o nome dela?
- Eu não sei.
- Você não perguntou o nome dela?
- Não. Não perguntei, pelo menos não lembro se perguntei ou não. – Senti que faltava uma parte de mim. Por que não sei tanta coisa? – Eu nem sei como fui parar com ela. Só sei que ela era muito sedutora e que conversamos durante... você sabe o que, e mais nada.
- Certo. – Ele coçou o queixo de forma bem profissional. – Você sabe ao menos o local onde estavam?
- Ta aí! O local eu sei, foi próximo da minha casa.
- Isso não responde nada. Próximo da sua casa pode ser qualquer lugar. E como você tem certeza disso?

Que tipo de pergunta foi essa?

- Eu cheguei bem rápido em casa depois.
- Metoo, meu amiguinho, eu acho que você estava sonhando. – Por incrível que pareça, foi a opinião mais séria e talvez mais importante que o Beto já tenha oferecido a alguém.
- Eu não estava dormindo. Sei lá...
- Ou você estava dormindo... ou você está inventando tudo isso. Eu já estava começando a acreditar que você... – Beto diminuiu
- Acreditar no quê?
- Esquece, besteira minha.
- Eu não estou inventando coisa, Beto. Pra quê eu faria isso. O problema, não é nem onde, nem quando, mas com quem! O que eu vou fazer, cara? Eu traí minha namorada. Eu nem consigo falar com ela direito nesses últimos dias. Ela diz “você está diferente. Aconteceu alguma coisa?”, daí eu respondo “Nada, impressão sua”. E isso está me matando. Se eu não contar, vou me sentir sujo para sempre, se eu contar vou perder a garota que eu amo.
- Desculpa, cara, mas se você ama tanto ela, por que fez isso?

Essa era a pergunta dolorida que gostaria de evitar. Mas que merda de vaca eu fui fazer? Se eu soubesse a solução disso. “Acorda Metoo”

- E quer parar de pedir para eu acordar! – Disse um pouco irritado. A pressão me deixava tenso.
- Eu não falei nada! – Falou Beto.
- Desculpa. Eu estou nervoso.
- A única solução que eu consigo pensar... – Ponderou Beto após um tempinho.
- É contando tudo para a Karina – Completei o raciocínio.

*

“Não consigo acordar o Metoo” dizia a voz distante de um amigo meu. Mas por que gostaria de me acordar? Eu acabei de subir para descansar. Minha mãe pode dizer que falo com ele mais tarde.

*

Não consegui dormir durante a noite depois de decidir que na manhã seguinte contaria tudo para a Karina. A reação dela seria muito traumática, tanto quanto o fato de que eu a traí. Resolvi descer até a cozinha e tomar um copo de chocolate com leite, bem quente. Assim poderia relaxar por um pouco de tempo.

Minha mãe deve ter escutado meus passos à noite, pois logo apareceu na cozinha também. Estava com a cara toda inchada, como se o cansaço tomasse todo o seu corpo, e sem dúvida alguma o fez.

- Estou tão cansada. – Disse ela se dirigindo à garrafa de café. – Parece que eu não dormi praticamente nada hoje. Seu pai ronca feito uma buzina, dá licença!

Nós rimos.

- Está sem sono? – Resolvi perguntar.
- Eu estou é morrendo de sono, mas senti fome e resolvi descer para filar aquele chocolate amargo que seu pai comprou.
- Então por que tomou um gole de café?
- Eu não sei, eu gosto de café.
- Mas você sabe que café tira o sono da gente, né?
- Mas até lá eu já corri para a cama e dormi de novo! – Disse ela bem humorada. – O que você está fazendo acordado à essa hora?
- Estou sem sono.
- E tem algum motivo?

Suspirei e essa foi minha resposta.

- Eu já entendi. – Disse ela dando outro gole de café.
- Eita, está todo mundo acordado, é? – Disse Rafa, que tinha acabado de entrar na cozinha, de pijama.

- Ei, ei, ei. Não quero saber de bagunça a essa hora da noite. – Disse nossa mãe. – Vocês dois vão logo para cama. Eu também estou indo.

Ela andou até a geladeira, abriu-a e pegou uma barra de chocolate ainda lacrada. “essa é só minha” disse olhando para o Rafa. Depois virou na saída da cozinha e pudemos escutar seus passos subindo a escada.

- Bem que ela podia ter dado um bloquinho. – Disse Rafa.
- Vai dormir garoto, não está na hora de ficar andando pela casa.
- Isso vale para você.
- Eu sei, por isso estou subindo. Vai ficar aí com os fantasmas?

Subi e me deitei. Depois do chocolate quente tudo parecia mais desfocado, disforme. Demorou um pouco para que minhas pálpebras pesassem, entretanto elas venceram os pensamentos, de certa forma.

No dia seguinte, me preparei o mais rápido possível para encontrar com minha namorada no horário marcado. Contudo, resolvemos ir para praça, comer uma pipoca, tomar um ar fresco e, para mim, testemunhas. Testemunhas caso ela queira me matar! Piada idiota; não deveria fazer piadas numa hora dessas, mas já diziam os sábios: “melhor rir para não chorar”, e eu tenho a impressão que já chorei tanto. Por que será? Basta saber que parte da última pergunta foi ironia minha.

Enfim ela chegou, saltitante e sorridente, como sempre.

- Oi meu amor. – Disse me dando um beijo.

Que hora essa de me chamar de “meu amor”. Ela nunca tinha me chamado assim antes. O destino não conspira a meu favor, pelo visto.
- Você quer pipoca ou picolé? – Perguntei.
- Tá calor hoje. Acho que quero um picolé. – Respondeu Karina prontamente.
- Então... como foi o seu dia? – Disse, procurando coragem para iniciar o assunto.
- Ah, foi bom, acho. Fiquei a manhã inteira com a minha mãe e depois fui fazer as unhas, estavam terríveis. Aproveitei que a gente ia se encontrar, daí eu podia me produzir mais. Afinal eu tenho que ficar bonita para o meu namorado. – Curiosamente ela deu em seguida o sorriso mais belo que já a vi dar.

Essas coisas mexem com a gente, pelo menos comigo. Vi naquele instante quão preciosa ela era para mim. Sempre tão sincera, tão honesta e alegre. Ela não merecia isso.

- E você? Como foi o seu dia? – Ela perguntou.

Péssimo.

- Normal... – Mais reticente que minha resposta não houve. – Ka, precisamos conversar sobre algo muito... muito sério que aconteceu...
- Mit, você está bem? – Seu tom demonstrava espanto.
- Precisamos... – Repeti meio grogue.

Tudo escureceu. Como uma imagem se apagando aos poucos, o colorido do parque, das arvores, das casas foi-se embora. Senti como se caísse, de maneira constante e rápida, espantosamente fora de lógica. Comecei a escutar várias vozes ao meu redor, falando coisas difíceis de se distinguir. Um sussurro aqui, outro ali.

“Ele está acordando”. “Ele precisa descansar, está certo?”. “Olha lá! Olha lá”.

“Metoo... Está me ouvindo?”. “Deixa...”.

“Agora sim...”

“Fica quieto”

“Ele está recobrando a consciência”.

“Eu sabia”

“Silêncio”. “Metoo consegue me ver?”

Conseguia ver. Meu quarto, meu computador. Cortinas fechadas, com luz baixa no ambiente. Alguém sentado na beirada da cama, e outras três pessoas espalhadas pelo local.

CONTINUA NO PRÓXIMO POST.

3 comentários:

Gammelo disse...

ta bom... agora sim eu não entendi mais nada... ate o proximo post

Alef disse...

então toda essa loucura foi um sonho?
estou tão ansioso pelo proximo post...
ate la!

Unknown disse...

Esse foi quente! Está ficando cada vez melhor e mais interessante, família, relações inesperadas, traição, acredito que logo aparecerão drogas e álcool, há os vilões precisam entrar em ação logo.