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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

NÃO IMPORTA O QUE ACONTEÇA

#3.02 – NÃO IMPORTA O QUE ACONTEÇA


O molho de chaves fazia um barulho agitado por trás da porta. Dava para sentir um certo nervosismo da pessoa cuja entrada queria - de certa forma - forçar. Meio segundo depois e nada. Nada acontecia. Minha mãe olhou para nós, quieta. Não estava assustada, nem nada, somente ria com os olhos. A expressão "rir com os olhos" pode parecer estranho, mas não, era uma forma de dizer "essa situação é engraçada", pois somente os olhos se enrugavam. Era uma das capacidades de minha mãe.

Logo uma voz viria a nos chamar a atenção. Lá de fora: ”Amor, qual era mesmo a chave?”. “A pequena prateada, com adesivo vermelho” gritou nossa mãe do lado de cá. Pelo visto, deu certo. Pois somente depois de dizer, provavelmente pela trigésima segunda vez, a maçaneta girou e a porta por fim abriu.

Antes mesmo que reparasse que mais alguém se encontrava a mesa, ele exclamou:

- Essas chaves são muito pequenas...

Ele pendurou o paletó na cabideira ao lado da porta, bem ao estilo norte americano, mais uma frescura da minha avó do que um utensílio. “Onde colocarei meu casaco se não tivermos um desses por aqui”, lembro perfeitamente disso. Minha avó por parte de pai não era a única mulher não doce que eu já conheci, mas era sempre um bom exemplo para o futuro que não se quer.

- Ei, Pai! Não vai me dar as boas vindas?
- Rafa, garoto, você chegou!
- Claro que cheguei – Disse o Rafa – Você é muito distraído pai.
- Se está se referindo ao caso da chave, foi da última vez que sua mãe e e eu...

Ele respirou fundo antes de montar sua frase, tentando recompor-se e reestruturar sua linha de pensamento. O momento ficou um pouco tenso, mas não durou por muito tempo. Meus pais trocaram olhares, magoados. Ele sorriu e ela balançou a cabeça.

- Esquece isso pai. Deixa essas bobagens de lado. Agora, bem agora, estamos todos juntos e quando digo todos, digo todos mesmo, sem faltar ninguém. – Falou Rafael.

- A tia Ducilda não está por aqui, não é mesmo? – Intrigou-se meu pai.
- Não diga bobagens, Leônidas. – Respondeu nossa mãe. – Mas ela não está, então relaxa.

Como de costume meu pai chegava e contava para nós as mais diferentes histórias que vira e mexe desenrolavam-se no escritório de criação de móveis, onde trabalhava. Meu pai era um desenhista muito bom, mas pouco reconhecido. Ninguém aqui na cidade imagina que pode estar sentado em um sofá estofado, com a assinatura do meu pai. Claro que o nome da empresa ficava em primeiro lugar, mas isso não nos deixava em situação ruim. Ele ganhava um salário razoável, com direito a bonificações toda vez que seu croqui fosse selecionado em uma nova linha. Ele não era o único por lá, seu supervisor chefe era o recordista nos negócios, o que lhe rendera uma promoção no mês passado. Mas voltando as histórias...

- Teve uma palestra sobre o tema Espiritismo dessa vez. Cada coisa estranha... – Meu pai falava.
- Estranha como? – Perguntou minha mãe, mais concentrada no garfo.
- Vocês acham que existe mesmo uma vida pós a morte? Eu quero dizer, não seria muito estranho mesmo saber que, por exemplo, você morre em um acidente de carro, e por algum motivo não sabe disso e fica vagando por aí... Eu não consigo entender...
- Talvez não seja tão assim... – Começou Rafa – Um amigo meu lá do Rio disse que freqüentava um núcleo Kardecista. Segundo ele, não ficamos tão perdidos assim, pois temos guias que ajudam a fazer essa passagem... foi o que ele me disse.
- E desde quando você se interessa pelo assunto – Perguntei.
- Não sei, o pai falou no assunto, daí eu lembrei, só isso.
- Bom, o que eu sei é que a gente pode fazer muita coisa ainda, porque estamos vivos. Incluindo comer, eu estou com muita fome – Disse meu pai.

Então comemos. Rimos. Comemos. Rimos. Rimos porque meu pai adora fazer piadas, e ele sempre escolhe o jantar para soltá-las. Chega tarde, trabalha de manhãzinha e o tempo, por outras palavras, parecia ser seu pior inimigo.

Quando eu e meu irmão estávamos em nossas camas, após nossos rituais de limpar a mesa do jantar e escovar os dentes, nosso pais estavam lá embaixo tendo uma conversa.

- Leônidas...
- Samanta, não devemos brigar agora. Olha, estamos todos, na mesma casa. Vamos manter um clima bom...
- Não é só o clima nessa casa que deve mudar. Nosso tempo juntos também. Faz quanto tempo que você trabalha sem férias? Três anos... três anos!
- Você sabe tanto quanto eu que se não trabalharmos, não temos casa para morar, comida para sustentar nossos filhos...
- Eu também trabalho, Leo!
- Então, o que você quer que eu faça? – Disse meu pai, num tom agressivo.

Não sei o que se passou depois desse momento, e algo me dizia que não deveria saber de fato. O que importava no momento e de acordo com o que eu conscientemente queria era a presença do meu irmãozinho.

O dia seguinte seria cheio de surpresas. Para começar apresentaria o Rafa para a Karina. Ele estava ansioso por isso, e eu preocupado. Ele consegue ser muito infantil de vez em quando, mas sempre surpreende de uma forma positiva. Na verdade, acho que sem ele em casa as coisas não tem tanta graça, é tudo muito sério, talvez até vazio... essa palavras me assustam por algum motivo que não sei explicar...

- Ei Mit – Me chamou Rafa.
- O quê?
- E seu blog?
- Continua no lugar de sempre. – Respondi despretensiosamente.
- Você começou a escrever depois que eu saí, né?
- É – Disse olhando para a tela do videogame e por pouco não venço o sub-mestre.
- Eu posso ler os posts?
- Pode – Disse.
- Certo! – Disse Rafa, com certa ponta de decepção. Mas sua subida para dar uma olhada no computer foi bem enérgica.

Vez ou outra olhava o relógio para ver se estava no horário da Karina chegar. Ela normalmente atrasa alguns minutos, para combater isso eu usava a velha tática de marcar mais cedo. Geralmente funcionava, mas é claro que nem toda a estratégia é perfeita.

“Metoo!” Gritava me irmão lá do quarto. O que será que ele quer agora? Será que escrevi nos posts algo que não deveria? “O que foi?” perguntei sem tirar os olhos da tela. Mas ele fez questão de chegar até os degraus e ficar olhando para mim até o ponto de eu me desconcentrar e dar a atenção devida.

- O que é, cabeção? – Perguntei frustrado por ter perdido a luta.
- Não tem nada lá no blog.
- Como assim? – Quis entender.
- Não tem nada, nada de nada. – Ele respondeu normalmente.
- Você deve ter entrado no blog errado, tem certeza que colocou o endereço certo?
- Metoo.com? – Ele frisou a testa. Claramente errou o endereço.
- É – confirmei.
- Foi esse mesmo.

Que coisa. Ele só pode estar brincando. Ah, se for brincadeira dele! Vai se arrepender. Por outro lado tinha que conferir o que estava rolando. Subi com ele, e logo sentei na cadeira giratória. A tela indicava nenhum post recente, até aí tudo bem, eu não havia escrito nada mesmo. Resolvi clicar nos link da barra lateral. “Primeira temporada... Herói...”. Cliquei. Nada. Atualizei. Nada. A única coisa que aparecia era o espaço reservado ao post, mas completamente vazio. Estranho, pensei. Tentei outro. “segunda temporada... deixe me ver... esse aqui, O blog de Blair”. Mais uma vez nada. Tentei outro e outro. Nada.

- Eu falei. – Disse Rafael, o dono da razão e orgulho inflado.
- O que você fez?!!
- Epa! Eu não fiz nada, eu subi, verifiquei meus e-mails e depois entrei no blog.
- Então por que ele está assim?
- Como eu vou saber? – Disse ele notadamente sem ação.
- Por que não aparecem os textos? – Comentei comigo mesmo.
- O que você escreveu neles?
- Eu... Eu escrevi coisas sobre minha vida, acho... tinha coisa de todo tipo...

Olhar as páginas em branco me deu uma sensação assustadora e gelada. Meu, o que aconteceu?! O pior é que nem consigo lembrar direito do que estava escrito... Será que...?!

- Droga! Acho que foi vírus! – disse irritado.
- Ixi, que droga! – Compadeceu-se Rafael.
- Você por acaso usou sua pendrive nele? Cartão SD, Usb em geral?
- Não! – Ele se irritou – Eu cheguei ontem, não deu tempo de nada. Nem descarreguei as fotos ainda.
- Deixa quieto.

Uns vinte minutos depois meu celular toca. Era a Karina. Corri lá para baixo para atender a porta. Ela estava muito sorridente como nunca tinha visto antes.

- Oi amor! – Disse ela me dando um selinho.
- Oi – Respondi meio sem jeito.

Rafael desceu as escadas e esperou depois de uns pigarros que eu o apresentasse. Como se fosse necessário, não?

- Então, Ka, esse é meu irmão mais novo, Rafael, mas pode chamá-lo de Rafa mesmo.

Ela foi ate ele e deu um beijo na bochecha.

- Então ele vai com a gente?
- Se você quiser – Eu disse.
- Ir para onde? – Ele não resistiu em perguntar.
- Nós vamos para o cinema, vai ter uns filmes legais em cartaz. Você gosta de filmes?
- Gosto.
- É... – Comentei contrariado.

“Que foi Mit, porque está com essa cara?” Karina me perguntou enquanto caminhávamos, os três. “Ele está assim por minha causa”, respondeu Rafa.

- Não é isso não. É que apagaram todo o conteúdo do meu blog.
- Nossa! Foi você? – Ele perguntou para o Rafa.
- Não foi não. O Metoo acha que sim, mas eu nem mexi em nada. Daí ele fica bravo comigo.
- Ele fica provocando também – disse. – Tá, eu sei que não foi você, não precisa falar como se fosse o fim do mundo.
- Metoo! Não fala assim com ele – disse Karina, me chamando a atenção.

Não importa se não foi ele ou não, só gostaria de saber por que meus textos não estão postados. Isso me dá dor de cabeça. Só de pensar sobre aquilo me sinto estranho por dentro.

No outro lado da rua, no entanto, algo muito atraente me tirou a atenção. Uma linda mulher, de vestido vermelho e cabelos ondulados e escuros, passeava pela rua como se fosse um palco, parecia muito feliz, como se tivesse ganhado um presente que sempre quisera ou algo do tipo. Por um instante muito do constrangedor, parecia que ela olhava nos meus olhos. Constrangedor pois tinha quase certeza que tinha babado, de boca aberta.

“Acorda Metoo!”

- Mit! – Chamou Karina. Sua voz possuía uma pressão diferente da de antes. – Quem é ela?
- Sei lá – Disse, me ajeitando.
- Mas parecia que você a conhecia – Comentou Rafa. Como eu o desejei calado.
- Sei. Estou sabendo, viu? – Karina recompôs.

Impressão minha ou ela estava tensa? Pudera, né? Que atitude foi essa minha? Aquela mulher tinha um ar irresistível, mas meu amor pela Karina era mais forte. Mas foi perturbador, ver aquela... caminhada...

Chegamos enfim no cinema. A fila estava grande, mas por coincidência o Beto e a Ana estavam por lá e fingimos que estávamos no banheiro para cortar fila com eles. Não que eu me sinta orgulhoso por isso, mas tenho certeza que outras pessoas já fizeram algo de acordo. Acabamos escolhendo todos o mesmo filme. Uma comédia romântica muito legal.

No final, nos despedimos dos dois e voltamos para cada, antes deixando a Karina em casa. Antes de irmos, ela quis falar comigo:

- Mit, não fica bravo com seu irmão, ele não fez nada.
- Eu tenho quase certeza que foi ele. Ele pode ser mais novo, mas não significa que não deve ter responsabilidade. Boa parte do que eu escrevi lá era para ele... e agora se foi. – Disse com leve irritação.
- Exatamente por isso Mit. Você fez para ele, não tem cabimento você ficar bravo por causa disso. É como dar dinheiro. Deu o dinheiro, a pessoa compra o que quiser com ele. E eu acho que ele não fez isso, não tem sentido nenhum.
- Mas ele pode ter feito sem querer.
- Então não tem motivo nenhum para você ficar bravo. Se foi sem querer, não foi de propósito.
- Mas muitas histórias queriam dizer sobre o quanto ele é importante para mim, e agora que tudo sumiu, foi apagado, sei lá... acredito que ele não vai saber.
- E você acha que ficando bravo ele vai entender que você está feliz com a presença dele. – Karina mantinha um ar indulgente. – Você só tem que falar com ele.
- Não dá. Ele faz muitas brincadeiras e essas coisas, mas ele é muito reservado... é o tipo de pessoa que não gosta de falar de certos assuntos.
- E você? É desse tipo?

Eu a observei com certa admiração. E pensei por longo tempo em suas palavras. Pelo menos acho que foi muito tempo. Ela estava certa.

No caminho para casa. Só eu e meu irmão. Caminhávamos lentamente. Ainda restava um pouquinho da tarde. E no horário atual, tudo parecia durar mais. Resolvi começar.

- Rafa... me desculpa por ficar irritado.
- Tudo bem. – Ele disse sem olhar.
- Eu não deveria ter ficado bravo. Nem sei o que aconteceu com o blog de verdade.
- Tá.
- Olha você é importante para mim...
- Nem começa, Mit.
- Olha, eu estou querendo dizer que as vezes sinto você distante. Não sei se é por causa da sua viagem ao Rio... Eu não sei.
- Você é importante para mim também. – Disse Rafa de forma tão comum como se alguém dissesse “tenho aula hoje”.
- Eu quero que a gente aproveite as coisas ao máximo. Antes que o pai e a mãe tomem uma decisão ruim, de novo.
- Certo eu entendi. Beleza? – Ele deu um sorriso.

CASA DA KARINA. 10 MINUTOS ATRÁS

- E você? É desse tipo? – Disse Karina.
- Acho que não. Eu sou muito transparente. – Falei.
- Então diga para ele o que sente. Eu tenho dois irmãos, Mit e de uma coisa eu tenho certeza sobre irmãos: Não importa se brigamos, não importa se xingamos ou se nos acusamos ou confundimos... Não importa o que aconteça nós não deixamos de ser irmãos.
- Certo.
- Tenho certeza que as coisas vão melhorar.

CONTINUA NO PRÓXIMO POST.

2 comentários:

Alef disse...

mal posso esperar pelo proximo post onde vem realmente as explicações...
muito legal essa temp... go go ep 3! hehe

Gammelo disse...

droga!!!!

detesto quando o capitulo termina assim... eu fico apreemsivo ate o proximo post.. kkk

q sera q vai acontecer, ou melhor o que esta acontecendo...